abril 6, 2021
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O desempenho da economia brasileira e a situação financeira das empresas no Brasil em 2020: impactos e estratégias diante da pandemia

O presente artigo pretende apresentar, de maneira breve, os seguintes temas: • O desempenho econômico do Brasil em 2020; • A situação financeira das empresas no Brasil em 2020 e as estratégias de enfrentamento da crise.

1. O desempenho econômico do Brasil em 2020

De acordo com as contas nacionais consolidadas do IBGE (2021)1, no ano de 2020, a economia brasileira assistiu ao significativo decrescimento do Produto Interno Bruto (PIB), da ordem de 4,1%, revelando a maior queda anual desde 1996 e, ao mesmo tempo, interrompendo o crescimento econômico dos últimos três anos (2017-2019), quando o PIB acumulou alta de 4,6%. O PIB, em 2020, alcançou a cifra de R$ 7,4 trilhões, sendo o PIB per capita (por habitante) de R$ 35.172, ao qual também se denota uma queda importante em torno de 5% - a maior registrada em 25 anos.

Entre os setores econômicos, verifica-se que o setor de serviços foi um dos mais afetados pela crise econômica e sanitária. Representando quase 70% do PIB, este setor expressou uma taxa de crescimento negativa de 4,5%. O que mais puxou a queda da participação do setor de serviços foi as “outras atividades de serviços”, com decréscimo de 12,1%. Nela, estão incluídos, principalmente, serviços como alimentação, alojamento, salão de beleza, academias, dentre outros, aos quais sofreram os impactos negativos das restrições de funcionamento, decorrente do enfrentamento da pandemia no país. A segunda maior queda se deu nos “transportes, armazenagem e correio”, atingindo a taxa negativa de 9,2%. As únicas categorias do setor de serviços que cresceram em 2020 foram as “atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados”, da ordem de 4%, e as “atividades imobiliárias”, com elevação de 2,5%. Na mesma direção, o setor industrial enfrentou uma queda de 3,5%, em 2020, sendo os piores desempenhos dos ramos industriais o da “construção civil” (queda de7%), o das “indústrias de transformação” (queda de 4,3%) e os da “eletricidade e gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos” (queda de 0,4%). O impacto mais importante no setor industrial deriva da queda da produção “automotiva”, de “outros equipamentos de transporte”, da “metalurgia”, das “máquinas e equipamentos” e dos “artigos de vestuário”. Entretanto, as “indústrias extrativas” apresentaram desempenho favorável, atingindo um crescimento de 1,3%, em função da alta produção de petróleo e gás, que compensou a queda da extração de minério de ferro. Por sua vez, ao contrário do setor de serviços e do setor industrial, em que se observam taxas de crescimento negativas, o setor da agropecuária/agronegócio obteve, em 2020, um aumento de 2%, ajudando a diminuir o impacto da queda das exportações, que chegou à ordem de quase 2%, acompanhado da queda de 10% das importações. Do ponto de vista do consumo das famílias, houve uma variação negativa de 5,5%, resultado este que ainda não foi maior devido ao papel dos auxílios emergenciais disponibilizados pelos programas de apoio governamentais. Já a parte do consumo dos governos despencou em 4,7%, especialmente através dos fechamentos de escolas, universidades, museus e parques ao longo do ano. Os investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo, caíram 0,8%, em 2020, atingindo uma taxa média de investimento na economia de apenas 16,4% do PIB e a taxa de poupança alcançou 15%. Diante deste cenário restritivo, acredita-se que, mesmo com o avanço da vacinação em massa e o retorno gradual do setor de serviços, a economia brasileira só conseguirá voltar ao ponto que estava antes da pandemia a partir de 2022, dado que as estimativas de crescimento de 2021 não serão suficientes para compensar a queda do PIB de 2020.

2. A situação financeira das empresas no Brasil em 2020 e estratégias de enfrentamento da crise.

De acordo com a pesquisa realizada pelo IBGE (2020)2, até meados de julho de 2020, 716 mil empresas fecharam as portas, correspondendo a mais da metade de 1,3 milhão de empresas que estavam com atividades suspensas ou encerradas definitivamente na primeira quinzena de julho, devido à pandemia. Segundo o mesmo levantamento, 99,8% dos negócios, que não voltaram a abrir as portas depois da crise da Covid-19, são de pequeno porte, sendo o comércio e os serviços os mais impactados, respectivamente 39,4% e 37%. No caso das pequenas e microempresas que permaneceram em atividade, verificam-se as seguintes estratégias mais adotadas: demissões de trabalhadores, cortes de gastos, renegociação de dívidas e tomada de crédito para se manterem viáveis no segundo semestre de 2020 e início de 2021. Para as 2,7 milhões de empresas que continuaram abertas, as consequências da crise econômica e sanitária foram significativas: 70% relataram diminuição de vendas ou serviços; 948.800 firmas tiveram que demitir trabalhadores durante esse período e 13% das empresas obtiveram acesso ao crédito emergencial do Governo destinado ao pagamento de salários. Ademais, apenas 13,6% dos negócios identificaram que a pandemia trouxe a possibilidade de novas oportunidades. Em se tratando das médias e grandes empresas, a nota elaborada pelo Cemec/Fipe (2021)3 indica os principais impactos causados pela crise econômica e sanitária. O primeiro deles diz respeito à queda de rentabilidade, na qual a relação entre o lucro líquido e a receita operacional líquida (ROL) caiu de 6,3% para 2,5%, no final do terceiro trimestre de 2020. Isso se deve ao aumento de despesas financeiras líquidas, posto que as empresas conseguiram manter seus coeficientes de resultados operacionais. As margens de lucro bruto sobre as vendas continuaram satisfatórias, atingindo o nível de 26,3%. Já a distribuição de dividendos para acionistas caiu para 0,85% do PIB, sendo o pior resultado desde 2009. Em relação à taxa de investimentos das empresas, houve queda de 15,79% do PIB, em 2019, para 14,84% do PIB, em 2020. E, no que tange a dívida bruta das empresas brasileiras não financeiras, verifica-se um aumento de quase 20% entre dezembro de 2019 e setembro de 2020, com a elevação de R$ 3,713 trilhões para R$ 4,444 trilhões, isto é, um acréscimo de R$ 731 bilhões (cerca de 60% do PIB). Deste total, dois terços do aumento não representam entrada de caixa, mas apenas impacto da desvalorização cambial sobre a dívida externa. Sem embargo, a captação líquida de recursos domésticos foi de R$ 236,2 bilhões, facilitadas pelas medidas emergenciais do Banco Central. Por essas razões, a situação financeira, especialmente das grandes empresas, é bastante diferente das pequenas e microempresas. Dentre as principais diferenças em termos de estratégias, destacam-se: a utilização de vários tipos de recursos financeiros, as reservas de caixa, as fontes de créditos pré-aprovados, a demissão de trabalhadores e/ou redução da jornada de trabalho com ou sem redução salarial, a redução mais sistemática de despesas, as possibilidades de renegociações e postergações de pagamentos e a capacidade de reestruturação interna. Ainda de acordo com estudo do Cemec/Fipe (2021), as médias e grandes empresas conseguiram preservar o caixa e elevar a poupança em R$ 540 bilhões, para R$ 2,3 trilhões. No entanto, este aporte de liquidez pode não ser suficiente para garantir a viabilidade de todas estas empresas ao longo de 2021. Nesse sentido, será fundamental a adoção de medidas de “socorro” por parte do governo, diante dos aumentos previstos de inadimplência e pedidos de recuperação judicial.

1 Cf. https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/30166-pibcresce-3-2-no-4-tri-mas-fecha-2020-com-queda-de-4-1-a-maior-em-25-anos

2 Cf. https://covid19.ibge.gov.br/pulso-empresa/

3 Cf. Nota CEMEC-FIPE 01/2021: Poupança financeira do setor privado e o financiamento da dívida pública.

Autor: Prof. Dr. Eduardo Martins Ráo Professor dos cursos presenciais de Administração, Tecnologia em Processos Gerenciais, Recursos Humanos e Logística, do Centro Universitário do Vale do Ribeira.

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