junho 9, 2021

A evolução da logística: da atuação segmentada à logística global com integração estratégica

Na era da conectividade, impulsionada pela globalização e pelo paradigma das novas tecnologias da informação e comunicação (TICs), a logística passou por transformações importantes. Se, até então, ela estava voltada, especialmente, para o transporte e a armazenagem de produtos, atualmente, seu ponto crucial reside na cadeia produtiva integrada, procurando atuar segundo o gerenciamento da cadeia de suprimento global (SCM – Supply Chain Management). 

Na síntese elaborada por Novaes (2007, p. 40), o gerenciamento da cadeia de suprimento significa “a integração dos processos industriais e comerciais, partindo do consumidor final e indo até os fornecedores iniciais, gerando produtos, serviços e informações que agreguem valor para o cliente”. Vemos, assim, que se destaca a integração e o foco no consumidor, pois todo o processo deve partir dele, buscando equacionar a cadeia de suprimento de modo a atendê-lo, na forma por ele desejada. Estamos, portanto, nos tempos de hoje, diante da quarta etapa ou fase da logística: a logística global com a integração estratégica a partir da cadeia de suprimento global.

Nesse sentido, o presente artigo pretende apresentar, de maneira breve, os seguintes temas: 

  • As três primeiras fases da logística: atuação segmentada, integração rígida e integração flexível;
  • A quarta fase da logística: logística global com integração estratégica ao longo de toda a cadeia de suprimento (SCM).

  • As três primeiras fases da logística: atuação segmentada, integração rígida e integração flexível. 

A primeira fase da logística remonta ao período imediato após a Segunda Guerra Mundial e pode ser caracterizada como sendo a fase da atuação segmentada. Nesta etapa, o elemento crucial para a logística estava voltado à racionalização dos estoques. A racionalização dos estoques tornou-se uma das estratégias competitivas mais fundamentais das empresas que participam da cadeia de suprimento. As organizações costumavam formar lotes econômicos para transportar seus produtos, utilizando-se de meios de transporte de menor custo, através de veículos de maior capacidade, ou então por meio de empresas transportadoras com fretes mais reduzidos. O principal método de controle dos estoques baseava-se no EOQ (Economic Order Quantity, Quantidade Econômica do Pedido), na qual os estoques são renovados de modo a minimizar os custos totais (custo de inventário, custo de transporte e custo para elaborar o pedido). 

A segunda fase da logística diz respeito ao período de meados da década de 1960 e da década de 1970 e ficou caracterizada como sendo a da integração rígida. Nesta etapa, o elemento central para a logística reside na maior racionalização dos processos, a partir da otimização de atividades e do planejamento, diante do aumento nos custos logísticos. Destacam-se, assim, a utilização de sistemas de programação da produção, tais como o MRP e o MRP II. Tratava-se, portanto, de uma etapa inicial de racionalização integrada da cadeia de suprimento, mas ainda muito rígida, pois não se permitia a correção dinâmica do planejamento ao longo do tempo. Ou seja, já existia uma integração de planejamento entre os elementos da cadeia de suprimento, mas essa integração ainda não é flexível. 

A terceira fase da logística desponta a partir da década de 1980 e está caracterizada pela integração dinâmica e flexível entre os agentes da cadeia de suprimento, em dois níveis: dentro da empresa e nas inter-relações da empresa com seus fornecedores e clientes. O avanço da informática permitiu uma integração dinâmica,

fazendo com que o intercâmbio de informações entre dois elementos da cadeia de suprimento pudesse ser realizado através da via eletrônica. Destaca-se a utilização do EDI (Intercâmbio Eletrônico de Dados), capaz de flexibilizar o processo de programação e possibilitar os ajustes frequentes. Verifica-se, também, a maior preocupação com a satisfação do cliente. Mas, o ponto fundamental, nesta etapa, reside na tendência pela busca do estoque zero, isto é, a necessidade de redução dos estoques de maneira sistemática e permanente, a ser obtida com melhorias paulatinas nos processos. 

Logo, o que temos nas três primeiras fases da logística é a busca pela integração entre os vários agentes da cadeia de suprimento, basicamente em termos puramente físicos e operacionais: troca de informações, fluxo de produtos e de dinheiro, acerto de preços e de responsabilidades.

  • A quarta fase da logística: logística global com integração estratégica ao longo de toda cadeia de suprimento (SCM).

A quarta fase da logística passa a ocorrer a partir dos anos de 1990, impulsionada pela globalização e pela difusão das novas tecnologias da informação e da comunicação (TICs), e está caracterizada pela logística global com integração estratégica ao longo de toda a cadeia de suprimento (SCM). As empresas da cadeia de suprimento começam a tratar a questão logística de forma estratégica, buscando soluções novas para ganharem competitividade e para induzirem novos negócios. Os agentes da cadeia de suprimento trabalham cada vez mais próximos, trocando informações e formando parcerias. 

Verifica-se, assim, uma nova concepção no tratamento dos problemas logísticos, através do SCM - Supply Chain Management (Gerenciamento da Cadeia de Suprimento). Nesta abordagem, a integração entre os processos ao longo da cadeia de suprimento continua a ser feita em termos de fluxo de materiais, de informação e de dinheiro, mas, a mudança se dá no sentido de que, agora, os agentes participantes atuam em conjunto e de forma estratégica, buscando os melhores resultados possíveis em termos de redução de custos, de desperdícios e de agregação de valor para o consumidor final. 

Novaes (2007, p. 49) resume os elementos cruciais encontrados na quarta fase ou etapa da logística global, apoiada no gerenciamento da cadeia de suprimentos (SCM): 

  1. Ênfase absoluta na satisfação plena do consumidor final;
    1. Formação de parcerias entre fornecedores e clientes, ao longo da cadeia de suprimento;
    2. Abertura ampla, entre parceiros, possibilitando acesso mútuo às informações operacionais e estratégicas;
    3. Aplicação de esforços de forma sistemática e continuada, visando agregar o máximo valor para o consumidor final e eliminar os desperdícios, reduzindo custos e aumento a eficiência. 

    Outra característica presente nesta nova fase ou etapa da logística deriva da sua relação com os impactos no meio ambiente e as mudanças no comportamento dos consumidores, que se tornaram cada vez mais exigentes e conscientes. Neste aspecto, é nítido o avanço, nas organizações, da logística verde e da logística reversa.

    Todas estas transformações implicaram na adoção da concepção da Logística 4.0, como sendo um complexo sistema composto por inúmeras tecnologias conectadas e que são capazes de se comunicar de modo integrado, visando cumprir com as necessidades e desejos dos consumidores e atender às exigências de aumento da complexidade nas operações logísticas. 

    De acordo com Paksoy et al (2021), a Logística 4.0 cria possibilidades para novos modelos de negócios, através das informações instantâneas e das soluções computadorizadas, operadas em tempo real com a Big Data. As tecnologias, tais como: CPS (Cyber-Physical Systems), IoT (Internet of Things), IoS (Internet of Services), os produtos inteligentes e os processos inteligentes já estão alterando substancialmente as operações logísticas em termos do processo de eficiência, produtividade e satisfação do cliente, e indicam que as atuais tendências caminham para a obtenção de ganhos de competitividade amparadas na flexibilidade, na sustentabilidade e na integração em toda a cadeia de suprimento global.

      Autor: Prof. Dr. Eduardo Martins Ráo 

    Professor dos cursos presenciais de Administração, Tecnologia em Processos Gerenciais, Recursos Humanos e Logística, do Centro Universitário do Vale do Ribeira.

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