junho 28, 2021

Pressupostos da Teologia: breve ensaio

Você já fez para si mesmo a pergunta: “O que é teologia”? A resposta pode ser simples se partirmos da nossa experiência de teologia, a partir da nossa religião e dos dogmas e doutrinas que ela nos traz ou se permanecemos apenas no campo da espiritualidade e da prática religiosa. No entanto, quando pensamos que existem muitas outras religiões e muitos outros modos de viver a fé e a espiritualidade, parece que o conceito fica um pouco mais difícil e indefinido, precisando ser melhor entendido. Afinal, o que é teologia? Como definir teologia além do que ensina a religião? Um dos pressupostos da teologia é a fé. Não dá para estudar aquilo que não se acredita. Sem fé não há teologia cristã possível. E se é teologia cristã, essa fé parte da experiência de Cristo. Podemos concluir que Deus é o objeto de estudo da teologia cristã e esse estudo se dá a partir da fé que é transmitida na pregação viva da Igreja da qual se comunga e acontece a partir de uma reflexão crítica e metódica realizada a partir desta mesma comunidade eclesial.

Os estudos teológicos têm como base a Escritura Sagrada, os Pais da Igreja e também um saber racional elaborado a partir de sua dimensão filosófica, ora através do pensamento aristotélico, ora através da Escolástica e de outros momentos históricos que contribuíram, de uma forma ou de outra com essa sistematização. A filosofia e a ciência, principalmente nos últimos séculos, trouxeram uma dimensão crítica à teologia cristã. Questionando os argumentos teológicos ela impulsionou novos estudos e novas compreensões desta disciplina, sempre partindo dos dados da Revelação e da experiência cristã. Na teologia cristã é a Escritura que nos revela o Deus que conhecemos e experimentamos. No Antigo Testamento, o povo de Israel conheceu Deus a partir do Êxodo, um Deus que vê, ouve o clamor, toma conhecimento das suas angústias e desce para livrá-lo das mãos dos egípcios (Ex 3,7-8). Deus é chamado de Javé. No dicionário de significados, a etimologia do nome de Javé, palavra hebraica (Yahveh ou Yehovah) é “Eu sou aquele que sou” ou “Aquele que traz à existência tudo que existe”, 

é este o ato fundacional da fé de Israel. Trata-se da vivência de um povo. Nela Javé se revela como libertador, através de um gesto que acompanha e dá sentido a todo o itinerário que leva seu povo ao encontro com ele. Por isso libertação e culto ao Senhor estão estreitamente ligados (GUTIÉRREZ, 1990, p. 26).

No Novo Testamento estuda-se a vida de Jesus, seus ensinamentos e os escritos daqueles que foram os primeiros a experimentar a fé a partir da experiência do Cristo Ressuscitado. Num curso de teologia cristã tem disciplinas que falarão especificamente da Escritura Sagrada. Para nosso estudo basta salientar que a Escritura, toda ela, é um pressuposto essencial para se estudar teologia, pois ela nos revela a Essência de Deus que queremos conhecer e nos apresenta Jesus Cristo, sentido primeiro de toda teologia cristã. O saber teológico também tem como pressuposto os escritos daqueles primeiros cristãos, que portanto, estavam mais próximos do evento Jesus Cristo histórico e das primeiras comunidades que procuravam vivenciar a experiência do Cristo Ressuscitado. Esses escritores são conhecidos até hoje como “Pais da Igreja”, expressão que demonstra a importância desses intelectuais da fé, que como verdadeiros pais, impulsionaram o cristianismo e a doutrina cristã, por vezes respondendo aos seus perseguidores, outras defendendo a fé e outras ainda contribuindo com a sistematização da doutrina cristã. Podemos afirmar que do século II até o século IV muitos intelectuais cristãos continuaram a escrever e a sistematizar a fé. Alguns cometeram erros e foram até chamados de hereges, outros conseguiram interpretar com solidez os ensinamentos bíblicos que foram trazidos para a realidade das primeiras comunidades de fé. Podemos destacar algumas figuras conhecidas como Pais da Igreja ou Pais Apostólicos como Clemente de Roma, Clemente de Alexandria, Inácio de Antioquia, Policarpo, Justino, o mártir, Irineu de Lião, entre tantos outros. As primeiras comunidades cristãs de onde emana a Tradição Cristã que chega até nós, tinham uma linguagem comum, “a linguagem de que todos os seres humanos foram redimidos por Cristo. Testemunharam a continuidade e a multiplicação das Igrejas Cristãs àqueles que a Tradição chama de Padres Apostólicos” (VIEIRA, 2003, p. 28). Os escritos teológicos não cessaram e continuam até nossos dias, sem o peso que receberam os Pais da Igreja pela Tradição, mas sempre impulsionando os debates e as reflexões sobre os estudos da teologia cristã, motivados por novas descobertas no campo científico e da filosofia. Para ampliar os horizontes dos estudos teológicos, além dos dados da fé e da experiência cristã, também existe a razão que ilumina ambos.

Bibliografia

 SILVA, Luis Carlos da. Teologia Cristã. Registro: UNISEPE, 2020

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