A Reforma Psiquiátrica Brasileira é um processo social complexo em curso no país desde a década de 1970, buscando romper com saberes, práticas e instituições psiquiátricas clássicas. Uma das frentes da Reforma consiste na compreensão do sofrimento psíquico para além de seus aspectos biológicos. O sofrimento deixa de ser reduzido aos seus componentes individuais e orgânicos, sendo considerado também na sua relação com o corpo social. Assim, um dos desafios para a Reforma consiste num maior cuidado para com as múltiplas identidades e expressões de gênero e da orientação sexual. Corpos, desejos e comportamentos fora do binário de gênero incomodam. Pessoas trans, travestis, intersexo, com diferentes desejos/práticas afetivo-sexuais fora da heteronormatividade tiveram suas vivências patologizadas até pouco tempo nos manuais oficiais de classificação de doenças. No plano mais amplo das relações sociais, ainda são alvo de violência dos mais diversos tipos, inclusive no âmbito da saúde mental. Internações compulsórias, terapias de “cura”ou de reversão sexual, discriminação e negligência em torno de suas reais demandas são alguns. “Por uma sociedade sem manicômios” significa abolir o aparato manicomial. Mais que a liberdade alcançada fora do manicômio. Ser livre é alcançar uma sociabilidade radicalmente oposta à qual vivemos hoje.
Palestra com Marcelly Camacho Torteli Faria - graduada pela Universidade Metodista de Piracicaba (2004) e mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2009). Atualmente, pesquisadora do Laboratório de estudos audiovisuais-OLHO, Faculdade de Educação, Unicamp, das produções do Cineclube Regente/Cha, fruto do trabalho de outro projeto de pesquisa, realizado através de parceria da Universidade com a Escola pública infantil municipal e o Programa Cinema e Educação - Projeto "Lugar-escola e cinema: afetos e metamorfoses múltiplas", processo FAPESP 2018/ 09258-4, e, do Projeto de doutorado em andamento "Cinema-escola e as cartografias do Feminino", processo FAPESP 2020/14341-8.
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