Manejo da ansiedade em tempos de pandemia.
Nossa dia a dia foi modificado drasticamente por uma situação de medo e terror, de repente uma doença começa ameaçar nossa saúde física e inicialmente a atacar com mais intensidade os mais vulneráveis pela idade ou alguma comorbidade .
Com uma expectativa que fosse uma situação controlada ou talvez inofensiva , parecia distante da nossa realidade pois em pleno século XXI , com grande avanço da medicina e técnicas profissionais para infinitos tratamentos , como também um efetivo atuante de pesquisadores e cientistas em escala mundial , tornava a ameaça improvável ou de pouca relevância.
Porem, à medida que a doença foi avançando , tanto em alcance numérico na população com em agravamento dos casos , começamos a vivenciar uma pandemia em proporções dramáticas . Agora diante de tão grave situação houve uma corrida insana para de alguma forma solucionar esta demanda e amenizar seus efeitos que sabemos deixarão sequelas por gerações.
A grande controvérsia dos pensadores de saúde , como todas as organizações relacionadas à saúde e às suas implicações, trouxeram uma turbulência de incertezas e fontes de desesperos que cravaram na população o terror e a incapacidade de gerir e suplantar essa nova realidade. Sabemos que todos somos supridos por forças vitais dos alimentos , dos relacionamentos diversos e das benesses da espiritualidade . Em condições normais estas “ forças” , promovem nossa saúde física mental e emocional , conforme definição de saúde pela OMS , sugerindo plenitude de vida quando preservados estes pilares da saúde. Porém com alta necessidade destas energias , poderá , na falta dela, deixarmos fragilizados , em uma ou mais áreas do nosso complexo universo do existir.
As demandas exigidas expõe nossas fragilidades , tornando-nos mais vulneráveis aos efeitos devastadores do contágio , pós contágios , contágios com sequelas ou ainda com algum desconforto pela circunstancia , dada pelo isolamento imposto ou fragilidade emocional para resiliência neste momento tão desafiador. A imunidade física tem sido muito divulgada como forma de prevenir , remediar ou curar a tão temida COVID 19 , e é sem dúvida uma alternativa eficiente e necessária para prevenção inclusive de agravantes e novos desdobramentos desta peste que assola a humanidade.
O tema porem , ao meu ver, deve ter menor ênfase na catástrofe e ter mais atenção quando se trata de reforços biológicos e psicológicos para enfrentamento da pandemia . A estrutura das emoções estão abaladas em todas as esferas , atingindo todos indistintamente , porque o convívio com o medo do contagio , o contagio , o pós contágio , os caminhos e condutas pós pandemias e infinitas incertezas nos consomem exaustivamente todos os momentos e faz este momento desafiador.
Podemos sugerir algumas orientações no manejo desta nova realidade , como base nas manifestações já constatadas , atribuídas às consequências deste desafiador momento.
Os incômodos são os mais variados , principalmente o desconforto emocional , dai sugerimos algumas atitudes simples que poderão contribuir muito para sua saúde mental.
Segue algumas dicas:
- Aceite a sua ansiedade.
Um dicionário define aceitar como dar “consentimento em receber”. Concorde em receber as suas sensações de ansiedade. Mesmo que lhe pareça absurdo no momento, aceite as sensações em seu corpo assim como você aceitaria em sua casa um visitante inesperado ou desconhecido ou uma dor incômoda. Substitua seu medo, raiva e rejeição por aceitação.
Não lute contra as sensações. Resistindo você estará prolongando e intensificando o seu desconforto. Ao invés disso, flua com elas.
- Contemple as coisas em sua volta.
Não fique olhando para dentro de você, observando tudo e cada coisa que você sente. Deixe acontecer com o seu corpo o que ele quiser que aconteça, sem julgamento: nem bom nem mau.
Olhe em volta de você, observando cada detalhe da situação em que você está. Descreva-os minuciosamente para você, como um meio de afastar-se de sua observação interna.
Lembre-se: você não é sua ansiedade. Quanto mais você puder separar-se de sua experiência interna e ligar-se nos acontecimento externos, melhor você se sentirá.
Esteja com ansiedade, mas não seja ela; seja apenas observador.
- Aja com sua ansiedade aja como se você não estivesse ansioso(a), isto é, funcione com as suas sensações de ansiedade.
Diminua o ritmo, a velocidade com que você faz as suas coisas, mas mantenha-se ativo(a)! Não se desespere, interrompendo tudo para fugir. Se você fugir, a sua ansiedade vai diminuir mas o seu medo vai aumentar: donde na próxima vez a sua ansiedade vai ser pior. Se você ficar onde está e continuar fazendo as suas coisas bem devagar - tanto a sua ansiedade quanto o seu medo vão diminuir. Continue agindo, bem devagar!
- Libere o ar de seus pulmões!
Respire bem devagar, calmamente, inspirando pouco ar pelo nariz e expirando longa e suavemente pela boca. Conte até três, devagarinho, na inspiração, outra vez até três, prendendo um pouco a respiração e até seis, na expiração. Faça o ar ir para o seu abdômen, estufando-o ao inspirar e deixando-o encolher-se ao expirar. Não encha os pulmões. Ao exalar, não sopre: apenas deixe o ar sair lentamente por sua boca.
Procure descobrir o ritmo ideal de sua respiração, neste estilo e nesse ritmo, e você descobrirá como isso é agradável.
- Mantenha os passos anteriores.
Repita cada um passo a passo. Continue a: (1) aceitar sua ansiedade; (2) contemplar; (3) agir com ela e (4) respirar calma e suavemente até que ela diminua e atinja um nível confortável. E ela irá, se você continuar repetindo estes quatro passos: aceitar, contemplar, agir e respirar.
- Examine seus pensamentos. Examine seus pensamentos. Você talvez esteja antecipando coisas catastróficas. Você sabe que elas não acontecem. Você mesmo já passou por isso muitas vezes e sabe que nunca aconteceu nada do que você pensou que fosse acontecer. Examine o que você está dizendo para você mesmo(a) e reflita racionalmente para ver se o que você pensa é verdade ou não: você tem provas de que o seu pensamento é verdadeiro? Há outras maneiras de você entender o que está lhe acontecendo? Lembre-se: você está apenas ansioso(a): isto pode ser desagradável, mas não é perigoso. Você está pensando que está em perigo, mas você tem provas reais e definitivas disso?
- Sorria, você conseguiu!
Você merece todo o seu crédito e todo o seu reconhecimento. Você conseguiu, sozinho(a) e com seus próprios recursos, tranquilizar-se e superar este momento. Não é uma vitória, pois não havia um inimigo, apenas um visitante de hábitos estranhos que você passou a compreendê-lo e aceitá-lo melhor. Você agora saberá como lidar com visitantes estranhos.
- Espere o futuro com aceitação.
Livre-se do pensamento mágico de que você terá se livrado definitivamente de sua ansiedade, para sempre. Ela é necessária para você viver e continuar vivo(a). Em vez de considerar livre dela, surpreenda-se pelo jeito como você a maneja, como você acabou de fazer agora. Esperando a ocorrência de ansiedade no futuro, você estará em uma boa posição para lidar com ela novamente.
Rolim, J. A., Oliveira A. R. & Batista, E. C. 2020. Manejo da ansiedade e COVID-19 Rev. Enfermagem e Saúde Coletiva, 5(1) 64-74, 2020, ISSN: 2448-394X. Fonte: Rangé & Borba (2008).
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